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O que mudou na alfabetização com a BNCC?

A BNCC, Base Nacional Comum Curricular, chegou para unificar os currículos escolares do país e trouxe mudanças também nos materiais didáticos e na formação de professores.

O documento incentiva um ensino mais integrado, com o desenvolvimento de habilidades intelectuais, físicas, sociais e emocionais. Não seria diferente com o ensino fundamental e a alfabetização.

A BNCC compreende a alfabetização como dois processos paralelos que fazem com que a criança entenda o uso da língua em situações reais: a apropriação do sistema de escrita e as práticas sociais de leitura e escrita. Assim, a aquisição da linguagem escrita deve sempre estar relacionada às práticas de produção escrita e oral aliada a textos.

O que mudou?

  1. O período de alfabetização é menor

A alfabetização foi antecipada do terceiro para o segundo ano, ou seja, até o segundo ano do Ensino Fundamental, as crianças devem saber ler e escrever.

Essa alteração divide opiniões: por um lado, alguns defendem que isso pode causar dificuldades, pois o processo, que deveria ser gradual, será acelerado; por outro, a BNCC traz para o Ensino Fundamental uma continuidade do que é ensinado na Educação Infantil, tornando a transição mais fluida. O processo é mais conectado e aprofunda conhecimentos de linguagem oral e escrita da EI na EF. 

A alfabetização é o foco das aulas de Língua Portuguesa nos dois primeiros anos e dá aos alunos novas oportunidades de imergir no letramento por meio de experiências, criando oportunidades de expressão, autonomia e protagonismo dos alunos. O terceiro ano agora deve focar na ortografia.

  1. Os alunos vão desenvolver consciência fonológica

As crianças são incentivadas a perceber os sons de cada palavra, ou seja, desenvolver a consciência fonológica logo nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Com isso, o professor tem mais facilidade em notar dificuldades de cada aluno e planejar estratégias para auxiliá-los, e ainda traz um ponto positivo no aprendizado oral e escrito.

  1. O ensino é centrado no texto

O trabalho na Língua Portuguesa agora é centrado em textos de diferentes gêneros, permitindo que os alunos vejam a língua em suas mais diferentes aplicações. Um dos objetivos do trabalho por meio de textos também é o de despertar o interesse dos alunos pela leitura e pela escrita, o que vai contribuir para que eles se expressem melhor. O professor deve abordar textos e gêneros na sala com contextos reais que façam sentido e tragam significado.

O processo é fluido e linear: primeiro a criança desperta curiosidade pelos textos e constrói a concepção de língua escrita para depois ser iniciada de fato na escrita e desenvolvê-la, passando então a associar a fala e a escrita.

A proposta da BNCC não traz somente livros didáticos e textos escritos, mas incentiva o uso de diversos formatos como vídeos e podcasts. Quanto mais exposição a variadas formas de texto, mais compreensão da língua como interação a criança vai ter.

  1. A linguagem é tratada como forma de interação

A BNCC assume a perspectiva enunciativo-discursiva de linguagem: ela existe em práticas sociais e promove a interação entre os sujeitos, portanto a função social dos textos usados nas aulas é vital.

Sobre este ponto, vale citar também a alfabetização explícita: não deve ser excluído o trabalho com atividades que façam o aluno refletir sobre o sistema de escrita alfabética, como estudar a relação entre sons e letras, questionar sobre a quantidade de letras em uma palavra e a organização das sílabas. A mistura dessas duas formas de alfabetizar dá mais oportunidades de aprendizado, visto que os alunos não aprendem todos da mesma forma.

  1. O incentivo ao uso da tecnologia

A BNCC incentiva a ampliação do letramento infantil e a inclusão de práticas modernas de expressão para que os alunos consigam se expressar em situações reais, além de entender que não há apenas uma forma de escrever ou falar. Essas práticas aliadas a situações do dia a dia incluem o letramento digital, que fornece ideias para a elaboração de gêneros textuais e possibilita produções.

O uso de tecnologia na alfabetização, portanto, é uma ferramenta para ampliação da criatividade e desenvolvimento da autonomia da criança, além de incluir o lúdico em sala e tornar o processo mais dinâmico, engajado e divertido.

A tecnologia na educação básica deve auxiliar na resolução de problemas cotidianos, preparando os alunos para o futuro e estimulando a produção de conhecimento, a habilidade comunicativa e a disseminação de informações.

Neste vídeo, a neuropsicóloga Patrícia Volpato conta como a tecnologia e jogos educacionais podem auxiliar na alfabetização.

  1. Há abertura para o multiletramento

Além do uso de gêneros textuais clássicos, como contos, notícias, tirinhas etc. e dos gêneros digitais, como chats e posts, a BNCC abre espaço para textos multissemióticos e multimidiáticos que consideram escrita, sons e movimentos: pinturas, ilustrações, infográficos, vídeos, músicas e assim por diante. Tais gêneros também contribuem para a construção do letramento e qualificam os alunos para a produção e o uso de ferramentas digitais.

Assim, segundo a Base Nacional Comum Curricular, ao final do processo de alfabetização o aluno deve ser capaz de:

  • compreender diferenças entre escrita e outras formas gráficas;
  • dominar as convenções gráficas, como letras maiúsculas, minúsculas e cursiva;
  • conhecer o alfabeto;
  • dominar a relação entre grafemas e fonemas;
  • saber ler;
  • ampliar o olhar para porções de textos maiores que palavras, desenvolvendo fluência na leitura.

Cristiano Sieves

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