É na escola que aprendemos a ler e escrever, subtrair e multiplicar. Descobrimos que Pedro Álvares Cabral avistou esse pedaço de terra chamado, posteriormente, Brasil, lá por volta de 1500. Professores nos falam sobre o mar, as serras e ficamos fascinados com a funcionalidade do nosso corpo. E é também nesse período que começamos a nos deparar com outras crianças que veem e interagem com o mundo de uma maneira diferente, ou de um ângulo distinto. Pelo menos é assim que deveria funcionar nas escolas brasileiras, já que cada vez mais gestores, professores e pais discutem políticas para adequar as escolas às crianças com limitações físicas.
Mais do que construir e reformular o espaço escolar para atendê-las, é necessário adaptar o currículo para que todos os alunos, com algum tipo de limitação física ou não, explorem as suas potencialidades e capacidades.
Em termos gerais, a educação inclusiva busca exatamente isso: educar todos em um mesmo contexto escolar. Esse novo conceito só surgiu na última década. Antes, as instituições de ensino eram divididas de acordo com o serviço que ofereciam: a escola regular e a especial. Portanto, um aluno com limitações físicas frequentaria uma escola especial, onde conviveria com crianças que também possuíam algum tipo de limitação.
Agora, com a nova proposta, só existe um tipo de escola e ela tem que atender a todos. A mudança é recente e ainda está sendo implementada, principalmente na rede pública de ensino. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) indicam o aumento do número de estudantes com algum tipo de deficiência na rede regular de ensino. Em 1998, eram apenas 43,9 mil matriculados nas escolas pública e privadas.
Em 2003, o número subiu para 144,1 mil e em 2014 atingiu 184,7 mil, um crescimento anual recorde de 28,1%. Há mais crianças com limitações físicas nas escolas e, proporcionalmente, mais desafios para a efetividade da educação inclusiva. Um dos principais desafios é o investimento em acessibilidade. Ainda segundo estatísticas do Inep, três em cada quatro escolas brasileiras não têm itens considerados básicos para acessibilidade dos estudantes, como corrimão, rampas e banheiros adaptados. Outro fator fundamental para a inclusão sair do papel e realmente acontecer é a formação de uma forte rede de apoio que conta com o professor, os gestores escolares, as famílias e os profissionais de saúde que acolhem essas crianças.
O apoio, porém, não fica restrito apenas ao horário letivo. Daniela Alonso, psicopedagoga e especialista em educação inclusiva, em publicação da revista Nova Escola, destacou o atendimento especializado oferecido fora do horário das aulas. Na perspectiva da educação inclusiva, os apoios centrais reúnem os serviços da Educação especial e o Atendimento Educacional Especializado (AEE). São esses os novos recursos que precisam ser incorporados à escola. O aluno tem direito de frequentar o AEE no período oposto às aulas. O sistema público tem organizado salas multifuncionais ou salas de apoio, na própria escola ou em instituições conveniadas, com o objetivo de oferecer recursos de acessibilidade e estratégias para eliminar as barreiras, favorecendo a plena participação social e o desenvolvimento da aprendizagem.
A inclusão começa com os educadores
Mesmo com o fortalecimento da rede de apoio e dos centros de Atendimento Educacional Especializado, muitos professores ainda não sabem como lidar com as crianças com limitações físicas. Em outra entrevista à revista Nova Escola, a psicóloga Adriana Marcondes Machado, do Serviço de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, afirma que o despreparo dos professores pode ser explicado pela dificuldade das pessoas em conviver com as diferenças. Ela ainda sugere que os educadores compartilhem suas dúvidas com a coordenação e colegas; respeitem a personalidade, as experiências únicas de cada criança e não pensem apenas na limitação do aluno; conversem constantemente com outros especialistas sobre cada criança; trabalhem a diversidade com todos os alunos e estimulem a solidariedade entre eles. Adriana também recomenda algumas atividades e estratégias que podem ser adotadas pelos professores em salas de aula:
O bem-estar físico
O educador deve saber o histórico pessoal e escolar do aluno, principalmente em relação aos medicamentos. Com esse histórico em mãos, o professor saberá qual atividade o aluno pode ou não participar.
Atividades básicas
Muitas vezes as crianças com limitações físicas têm dificuldades de se movimentar, arremessar e pegar objetos ou até mesmo parar e mudar de direção. Uma forma lúdica que pode auxiliar os alunos é propor jogos em que eles façam escolhas, como passar por cima de algum obstáculo simples. Assim, o estudante aprende a ter um controle maior sobre o próprio corpo.
Interação
Interagir é fundamental para qualquer ser humano, ainda mais para as crianças. Os professores podem estimular o contato físico, a conversa e a expressão de emoções entre os alunos.
Peças imantadas
Outra ideia é usar a lousa com letras magnéticas para facilitar a formação de palavras e a memorização quando houver restrição no movimento dos braços. A educação é um direito de todos. Crianças com limitações físicas estão amparadas pela Constituição Federal e devem ser matriculadas em instituições de ensino, sejam elas privadas ou públicas. A Diretoria de Políticas de Educação Especial da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC) divulgou em março deste ano uma nota técnica em que orienta escolas públicas e privadas a matricular os estudantes com deficiência. Vale lembrar que as instituições que se negarem a matricular crianças e adolescentes com deficiência estarão sujeitas à multa.