O empresário Paulo Zamboni, que atua no setor de desenvolvimento de software, tem um filho com autismo. No dia-a-dia, eu identifiquei que ele tem muita facilidade com tecnologia e muita dificuldade em se organizar. Ele é muito inteligente para certas atividades, porém quando a gente não antecipava as tarefas que iria fazer ao longo do dia, ele se frustrava e não queria fazer.
Especialistas confirmam a percepção de Paulo: crianças com autismo aprendem principalmente com estímulos visuais. Por isso, a comunicação é feita principalmente através de imagens, desenhos e cores. Esse aspecto de sua disfunção pode ser usado a fim de ajudá-las a se comunicar e a expressar seus pensamentos e sentimentos. O comportamento do filho do empresário, portanto, é bem comum entre crianças com autismo, segundo o psicoterapeuta Regis Nepomusceno, que desenvolveu uma metodologia para organizar as tarefas da dia a dia.
Quando uma pessoa tem deficiência, existe uma dificuldade de lidar com tarefas do dia-a-dia de uma maneira natural. Assim, a ideia [da metodologia] é antecipar todas as tarefas do dia, escrevendo cada passo delas para que haja registro de lembrança. No caso do autismo, explica ele, acontece um aprendizado real sobre a rotina, e se evitam frustrações. O autista gosta de ter rigidez na sua rotina. Isso significa que, quando se depara com uma tarefa que não estava prevista, ele se recusa a fazer ou a faz contrariado. Por isso, pela manhã, a gente antencipa tudo o que vai acontecer ao longo do dia, detalha o terapeuta.
Para facilitar a disseminação dessa metodologia, Regis e Paulo se uniram para criar o app Minha Rotina Especial, disponível para iOS (versão Android deve ser lançada até o final do ano). Usado em tablets, o app é uma ferramenta de potencialização de habilidades, que organiza a vida da criança a partir de sua individualidade. Ele respeita o usuário [que é a criança] como ator principal da própria rotina. Por isso, em vez de ícones, são usadas fotos da própria criança, explica Régis. Também é possível inserir lembretes de áudio, por meio de mensagens gravada.
O aplicativo é individualizado, ou seja, o pai ou um terapeuta especializado programa a rotina da criança, fotografando e escrevendo todos os passos de cada atividade que ela tem de fazer. Depois de tudo programado, funciona como uma agenda, em que cada atividade tem as opções de on ou off, conforme o dia, detalha Paulo, que compara o Minha Rotina a uma agenda virtual para a criança –apesar de ele também ser útil para adolescentes e até adultos.
Além de pessoas com autismo, o app também é útil para os pequenos com deficiências motoras. Quando você antecipa a rotina ou uma ação para uma criança que tem um problema motor, ela consegue se organizar mentalmente para estes atos, explica Regis. Segundo ele, quando a criança sabe o que precisa fazer com antecedência, o corpo de quem tem limitações motoras consegue responder melhor aos impulsos da mente.