Segundo dados apresentados no 7º Congresso Aprender Criança Games, mídias e o cérebro infantil: novos desafios para a educação, cerca de 80% das crianças com 4 anos já possuem seus próprios dispositivos eletrônicos e muitas delas acabam tendo atraso no desenvolvimento da linguagem e dificuldade de interação social.
Para a neuropsicóloga Patrícia Volpato, a tecnologia é formidável para ser usada na educação desde que se tenha um objetivo e que seja assistida. Eu uso a tecnologia para facilitar a aprendizagem e o acesso de crianças que têm alguma dificuldade motora ou psíquica. A questão é que não deixo ela jogando todos os jogos que estão ali disponíveis. Eu explico o que vamos fazer e como vamos fazer. Entender o que se está estimulando e porque é extremamente importante, afirma Patrícia.
Dentro desse contexto, compreender o que é a Psicopedagogia e a Ludopedagogia é fundamental. A profissional comenta que não existe certo ou errado em relação a escolha de brinquedos e atividades lúdicas. O certo é saber o objetivo que se tem com o jogo dentro do tratamento.
Nos restaurantes, por exemplo, as crianças ficam isoladas nos dispositivos e as famílias não conversam. A criança precisa de troca, de interação, de contextualização, complementa.
Para entender mais sobre estes conceitos, assim como quais os cuidados e a importância de utilizar jogos no tratamento de crianças, confira a entrevista que fizemos com a neuropsicóloga!
P – O que é a psicopedagogia?
R – A psicopedagogia estuda todos os processos envolvidos na aprendizagem, unindo várias áreas, entre elas a psicologia, a neurologia, a pedagogia e a filosofia. Ela investiga quais são os estilos e perfis de aprendizagem, para entender se a criança tem alguma dificuldade na compreensão. Por exemplo, quando a criança tem baixo rendimento escolar, se compreende qual dificuldade de aprendizagem é essa e quais tipos de estimulação, reabilitação, processo ou intervenção psicopedagógica se faz necessária para melhorar essas habilidades em questão. Atualmente, também há uma preocupação em como se pode prevenir futuras dificuldades de aprendizagem.
P – Quais as diferenças com a ludopedagogia?
R – A ludopedagogia usa o brincar para intervir nesses processos de aprendizagem.
P – Qual o papel do brincar no desenvolvimento e no tratamento da criança?
R – Entendo que quanto mais ela entender que está brincando, mais fácil e prazeroso fica o processo e mais envolvida está essa criança. A partir do momento que ela tem prazer naquela atividade ou tarefa que está realizando, ela vai fazer conexões neuronais, onde ficarão fortalecidas todas essas memórias. Ou seja, todo estímulo recebido com afeto tem um lugar bem importante na memória e quando se precisa evocar uma informação, ela vem com muito mais facilidade. O fato de ela gostar do que está fazendo, abre as janelinhas da aprendizagem e fica muito mais fácil.
P – Como trabalhar jogos e brincadeiras na clínica psicopedagógica?
R – Então, o jogo é importante, porém o essencial é que se tenha um objetivo naquilo que se quer alcançar. O que eu quero alcançar utilizando ele? Todos os jogos acabam estimulando alguma habilidade, mas é preciso observar a postura da criança e depois pensar nos modelos de aprendizagem. Com as brincadeiras e jogos podemos trabalhar o planejamento mental, funcionamento mental e a flexibilidade mental, por exemplo.
P – Como oferecer, juntamente com o tratamento, atividades que promovam a inclusão, a aprendizagem e atraiam a atenção?
R – Eu busco muitos materiais diferenciados para as crianças que eu atendo, para que possam auxiliar em todo o tratamento. Em 2017, comecei a investir bastante em tecnologia. Mas de novo: Não tecnologia por tecnologia. Tecnologia com objetivo. Isso faz uma grande diferença, porque quando eu tenho a tecnologia, eu tenho uma tela, ela tem um movimento, tem um som, uma cor e fica muito mais fácil prender a atenção da criança. Só que eu preciso saber o que eu quero trabalhar com essa criança. Por exemplo, uma criança impulsiva, que não planeja as respostas, eu posso trabalhar os jogos de labirinto do Aplicativo Central de Atividades da PlayTable. Primeiro eu vou pedir que ela faça o percurso somente com os olhos, fazendo uma organização visual, para somente depois fazer a sequência do labirinto com o dedo.
Sobre a Patrícia Volpato
Patrícia Volpato possui formação em Psicologia e Pedagogia e especialização em Neuropsicologia e Psicopedagogia. É docente em cursos de especialização e proprietária da Clínica Espaço Confiance.