Avaliar os alunos é uma tarefa complexa, que demanda um esforço cada vez maior de docentes e gestores para respeitar as individualidades e o ritmo de cada criança. O mesmo acontece em relação ao trabalho da escola: é importante acompanhar o desempenhos dos profissionais em sala de aula e estimular a formação de professores, mas isso deve ser feito de forma cuidadosa e, principalmente, construtiva.
No Brasil, as avaliações têm sido feitas por meio do resultado de seus alunos, e normalmente identificam avanços e retrocessos das escolas — e não dos docentes individualmente. Em estados como São Paulo e Rio Grande do Sul, por exemplo, criou-se políticas de gratificação monetária aos professores conforme avanços nos indicadores de rendimento nas provas oficiais, mas de forma coletiva. Recentemente, começou-se a aplicar técnicas com filmagens de aulas, análise de portfólios de professores e propostas de aula. Um exemplo de quem está usando isso é a rede de escolas Pensi, no Rio de Janeiro, que teve seu caso contado no jornal O Globo. Lá, é usada uma plataforma chamada Aprimoração, em que as aulas filmadas são disponibilizadas e uma equipe, também de professores, analisa os pontos positivos e negativos. O diretor da instituição, Fábio Oliveira, explicou que a ferramenta ajuda a incentivar bons professores e a melhorar o desempenho daqueles que têm algumas dificuldades. Muitas vezes vemos um profissional que dá uma excelente aula mas não é percebido. Ele se sente sozinho, isolado e desprestigiado. Isto é um erro. Também existem professores que possuem um bom repertório de conteúdo, mas precisam aprimorar algumas técnicas. Quando podemos fazer essas trocas profissionais em rede, todo mundo ganha, relata ao jornal. Esse tipo de estratégia vem sendo valorizada por permitir um acompanhamento mais efetivo do que acontece em sala, depois que a porta se fecha.
Ao avaliar as práticas de ensino, também se deve levar em conta as condições de trabalho, currículo, cultura e organização da escola e, ainda, postura de seus dirigentes e demais agentes educacionais. Somente dessa forma será possível identificar e superar os problemas existentes. Por conta dessa complexidade também são questionáveis avaliações padronizadas: afinal, como usar a mesma régua para medir o trabalho de um docente que dá aulas em uma instituição de classe média em uma das três maiores capitais do Brasil e o de um professor que atua nas periferias de cidades do interior, onde os contextos sociais têm influência maior sobre os resultados de ensino do que o talento individual do professor?
Uma reportagem da Revista Educação aponta um caminho possível: adotar múltiplos recursos de avaliação de forma complementar. A professora Denise Vaillant, da Universidade ORT Uruguay, conta que alguns países já estão combinando processos de autoavaliação, avaliação dos pares e portfólio de atividades, que é analisado por avaliadores externos. Com isso, é possível investir na formação de professores focando nas necessidades de desenvolvimento de cada um deles.
PL cria exame nacional para avaliar professores da educação básica
Nesse sentido, o projeto de Lei 6114/09, que ainda está tramitando na Câmara dos Deputados, propõe a criação do Exame Nacional de Avaliação do Magistério da Educação Básica (Enameb). O objetivo é avaliar o conhecimento dos docentes e usar os resultados da prova para processos de seleção temporária ou programas de avaliação de conhecimentos e habilidades. A versão do PL aprovada na Comissão de educação define que a participação no exame seria voluntária e que professores de escolas públicas e privadas de educação básica poderiam participar. O exame seria ministrado a cada dois anos e haveria duas provas: uma comum a todo o território, e outra que diga respeito à região em que trabalha o professor. A avaliação também poderá ser usada para levantar o perfil dos professores e suas condições de trabalho.
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